Para falar a verdade, acho que nunca ouvi tantas vezes a palavra solidariedade a ser pronunciada durante todo o ano como neste Dezembro. Não há associação no país que não aproveite esta época natalícia para desenvolver uma campanha de… solidariedade.
Não estou contra tudo o que se faça em nome da solidariedade, contudo, acho que deveríamos espalhar o uso desta palavra pelo resto do ano. Já dizem alguns investigadores famosos que a concentração pode ser prejudicial.
Não sei se já repararam mas, quando alguém, a meio do ano, nos vem com um discurso onde se apela à solidariedade, uma grande parte dos receptores parece estar em “stand by”. Ou então, os que estão em “on”, lá vão mandando umas “boquitas” referentes àqueles que vão ser os beneficiários dessa mesma solidariedade, do género… “o que eles precisavam era de ir trabalhar... e olha que trabalho não falta… há aí muita casa e vãos de escada para limpar”.
No entanto, se o mesmo discurso for proferido em Dezembro, já obtemos reacções completamente diferentes. O chamado “espírito natalício” parece que amolece consciências… até aquelas que, ao longo de 11 meses, são autênticos maciços graníticos.
Já temos provas dadas que os portugueses, quando querem, são generosos. Sabem ser solidários. Até os mais pobres acabam por contribuir em prol daqueles que são ainda mais pobres.
Acredito piamente que, se esta solidariedade fosse repercutida mais vezes ao longo do ano, e não apenas concentrada em Dezembro, Portugal seria, sem dúvida, um país diferente. Não é preciso que a solidariedade se manifeste apenas com dinheiro ou a dádiva de cabazes com géneros alimentícios. Há outros tipos de solidariedade que é necessário levar a cabo durante doze meses.
A Associação Empresarial de Portugal sugeriu esta semana a redução do número de feriados. Uma proposta já contestada pelo Bispo do Porto. Não seria mais inteligente por parte dos empresários sugerirem, por exemplo, a dádiva de um dia dos seus trabalhadores à causa do voluntariado? Esta é uma forma, no meu entender, de solidariedade que devia ser praticada de Janeiro a Dezembro.
Memórias da Festa
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