sexta-feira, 21 de maio de 2010

O reguila que fala portunhol

As crianças sabem perfeitamente que, quando há visitas em casa, podem ser um pouco mais atrevidas do que o habitual. Ou seja, têm consciência que os pais não lhes ralham tão facilmente quando estão presentes pessoas estranhas ao estrito ambiente familiar.
E, vai daí, toca a abusar um bocadinho. Mexem onde sabem que não podem mexer. Abrem as gavetas que habitualmente não costumam abrir. E dizem aquilo que não costumam dizer.
Ora, isto faz-me lembrar o actual Governo que, tal como um puto reguila, aproveitou a presença de visitas em casa para fazer das suas. Assim, sem mais nem menos, quando o país estava preocupado em bem receber o Papa Bento XVI, anunciou ao país distraído, ou melhor, empenhado, o aumento de impostos.
Sinceramente, eu acho que os portugueses ainda não perceberam muito bem o que se está a passar. E só irão perceber quando começarem a olhar para a carteira a partir do próximo mês de Julho.
Aliás, eu devo dizer que segui com muita atenção a comunicação do Presidente da República ao país e fico com a sensação que o principal do seu discurso também passou ao lado de uma boa parte das pessoas. Mais do que justificar a promulgação do casamento entre pessoas do mesmo sexo, Cavaco Silva disse claramente aos portugueses que a situação de Portugal é dramática. «Importa, no entanto, ponderar os efeitos práticos de uma tal decisão e ter em devida conta o superior interesse nacional, face à dramática situação em que o País se encontra», disse o Presidente da República, se bem me lembro.
Pois bem, perante isto tudo, fico com a estranha sensação que o Governo nos quer iludir e enganar a todos. Se temos o Presidente da República a dizer que a situação é dramática e o primeiro ministro a garantir, em Ponte da Barca, que estamos no caminho da retoma, eu pergunto, em que é que ficamos? Aliás, José Sócrates já começou a falar em cerimónias oficiais o seu “portunhol” que, tenho quase a certeza, será a breve prazo a sua língua oficial. Isto, provavelmente, a bem da nação, para que ninguém perceba a situação dramática que vivemos.

sábado, 1 de maio de 2010

Governo tem de ir à DECO

O país vive momentos difíceis. Acho que qualquer leigo já percebeu, mesmo não sabendo muito de economia, que isto não está para brincadeiras.
Nos últimos dias, as notícias deram conta que Portugal desceu dois níveis no rating da Standard & Poor’s, mostrando, assim, ao mundo que este é um país cada vez mais caloteiro. Ou seja, um país cheio de dívidas, cujos rendimentos já não chegam para pagar o que deve.
Isto faz lembrar aquelas empresas financeiras que telefonam insistentemente para as famílias a prometer-lhes todas as facilidades do mundo na concessão do crédito. Muitas, sem grandes recursos económicos, caem nesse “canto da sereia” e, quando dão por ela, estão com a corda na garganta e não conseguem pagar o que devem. As vozes doces, que outrora prometeram dinheiro quase dado e fácil de reembolsar, tornam-se duras e ameaçadoras. O número de famílias que caiu neste tipo de situação é de tal modo gravoso, que a DECO já tem mesmo um gabinete para ajudar as famílias endividadas.
Ora aqui está um serviço que seria muito útil ao nosso primeiro-ministro. Pelo que tem sido divulgado, o Governo, para superar este momento difícil, prepara-se para pôr em prática uma série de medidas drásticas. O cortes nas despesas é inevitável. Assim, foi já anunciado, vai haver corte nas aquisições de viatura. Estou a imaginar José Sócrates a chegar a uma inauguração num dos carros do Parque Nacional da Peneda-Gerês: as velhinhas “4L”. Bom, não está mal. Outra medida já anunciada é o corte nas despesas com as comunicações. Aqui consigo imaginar o ministro da Defesa a comunicar com sinais de fogo. Também não está mal.
Contudo, penso eu, é preciso ir mais além. Será sensato manter teimosamente a construção de um novo aeroporto em Lisboa, a construção da linha do TGV ou a terceira travessia sobre o Tejo? Ou será melhor cobrar portagens nas SCUT, aumentar os impostos aos portugueses ou ainda manter os salários e prémios principescos de certos administradores de empresas públicas que ganham mais que o Presidente da República?
Sinceramente, eu acho que não ficava mal ao primeiro-ministro reunir toda a informação numa “pen” e dirigir-se ao gabinete de atendimento aos endividados da DECO e pedir uns conselhos porque, ao que parece, as prioridades deste Governo andam um pouco trocadas.