sábado, 4 de outubro de 2008

Quo Vadis, português?

Recordo-me que, quando era pequeno, ouvia os mais velhos a manifestarem-se preocupados com as novas gerações, afirmando que os jovens não sabiam falar o português correcto e muito menos escrevê-lo.
Mais tarde, já quando andava na escola, os professores vaticinavam um triste futuro para a língua de Camões. Mais uma vez, ouvia-se o discurso que os mais novos não sabiam escrever. No tempo deles, diziam, é que era. Eles eram obrigados a fazer cópias, composições e ditados, coisas que deixaram de se praticar com as novas pedagogias e que eram essenciais para quem quer escrever bem.
Hoje, olhando para o que me rodeia, sinto-me um Velho do Restelo que está a alinhar pelo mesmo discurso que ouvia na minha infância e juventude e que tantas vezes critiquei.
Hoje, vejo que a língua portuguesa está a enfrentar um dos seus maiores ataques de sempre, fruto, provavelmente, de uma sociedade sujeita ao ritmo das novas tecnologias, onde, em grande parte das situações, “ontem já era tarde”. Por exemplo, é preciso responder rapidamente a uma SMS, e um “que” transforma-se em “k”, e um “ch” em “x”. Mas, o pior é quando isto é transportado para os testes e exames. Mas, pior ainda é quando o Governo, na correcção de uma prova global, manda que se esqueçam os erros ortográficos. Mas, o cúmulo é quando o exemplo vem de cima.
No último debate mensal na Assembleia da República, a dado momento, ouvi o Primeiro Ministro a dizer “aitem”. Prosseguindo o seu discurso, José Sócrates até utilizou o plural: “aitems”. Percebi que, afinal, ele queria dizer item. Pronto, neste caso, até posso dar um desconto. Com um pouco de esforço, até poderíamos dizer que estava a fazer uso do seu inglês técnico. O pior é quando daqui a alguns anos alguém escrever a um amigo a dizer que vai passar férias ao “Allgarve”.

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