O país ficou suspenso na passada sexta-feira à espera das decisões do Tribunal relativamente ao processo da Casa Pia, em Lisboa, depois de praticamente seis anos de audiências.
As televisões e as rádios fizeram directos, os jornais de âmbito nacional prometiam, e cumpriam, actualizações sempre que tal se justificasse.
Tenho para mim que mais de meio Portugal estava curioso em saber se o arguido mais mediático deste processo seria, ou não, condenado. Provavelmente, muitos também estariam curiosos em saber o número de anos de prisão efectiva que o colectivo de juízes, quase de certeza, teria reservado para o arguido Carlos Silvino. O resto pouco importava.
O “circo mediático” começou a ser montado na quinta-feira e teve o seu auge na sexta-feira. Tudo em nome do dever de informar sobre as conclusões do já classificado “julgamento do século”.
Num dos telejornais ouvi uma das arguidas neste processo a dizer aos microfones que odiava os jornalistas. Como jornalista, até a compreendo. Hoje, em nome do sensacionalismo, da conquista de audiências, vale tudo. Até tentar arrancar palavras de quem não quer simplesmente falar.
Pois, quem pensar que tudo acabou, está redondamente enganado. E sinal disso mesmo é o cúmulo de um dos arguidos ter convocado uma conferência de imprensa para depois da leitura da sentença. Pois, se a moda pega, isto vai ser bonito. Já imagino os jornalistas a saírem a correr de um tribunal para se dirigirem a uma qualquer unidade hoteleira, onde um condenado pretende explicar o seu ponto de vista relativamente à justiça portuguesa. Mais… promoveram-se logo a seguir debates em meios de comunicação social com a participação dos intervenientes no processo que mais pareciam mini-julgamentos.
Nesta maratona informativa ouvi, a determinado momento da boca de um advogado que, com os recursos, que podem ir até ao Tribunal Constitucional, este é um processo longe de ter acabado. Assim, na melhor das hipóteses, ainda teremos uns 15 a 20 anos pela frente. Durante os próximos anos, podemos já imaginar, os arguidos agora condenados, vão continuar à solta, a dar entrevistas e talvez à espera de uma imprecisão processual qualquer que permita a nulidade do processo.
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