Descobri há dias que sou um “sem médico” sem nenhuma sorte. E disseram-mo assim cara a cara, com uma frieza tamanha que fiquei sem reacção.
Para ser franco, eu já estava acostumado a não ter médico de família. Afinal, é uma situação que me acompanha há 14 anos. Mas, quando me disseram que estou sem médico de família assim há tanto tempo porque não tenho sorte, fiquei triste e desanimado.
Eu estava perfeitamente convencido que nos centros de saúde, ou nuns serviços centrais, existia uma lista, que imaginava extensa, com muitos nomes seguidos, onde os médicos iam pescar por ordem os seus utentes. Por já terem passado 14 anos, imaginava essa lista muuuuuito longa, onde o meu nome nunca mais chegava ao topo, tal e qual as Danaides que foram condenadas no Hade a encher de água uma jarra que se encontrava furada. Mas puro engano.
Porque já andava desconfiado, decidi que era melhor ir inscrever-me numa Unidade de Saúde Familiar para conseguir ter um médico de família. Afinal, 14 anos é muito tempo e eu já tinha ouvido por aí que havia pessoas que tinham conseguido o seu médico exactamente através destas moderníssimas USF.
Quando lá cheguei, a senhora da secretaria, muito simpaticamente, informou-me que ainda não estavam a aceitar inscrições, pelo que teria de voltar mais tarde. Talvez lá para Março ou Abril.
Fiquei desconfiado. Até porque tenho colegas meus que, ao fim de 7 anos, conseguiram ter um médico de família. Eu, ao fim de 14 anos, continuo à espera, expliquei. Foi aí que a tal senhora me contou que, quando chega um médico novo, ele vai à tal lista e, sem olhar para os que estão há mais tempo, “pega” num punhado deles, independentemente do lugar que ocupam, e apodera-se desses utentes, passando a ser o seu médico de família. E pronto, é assim que se faz. Por isso, acrescentou, se ao longo destes 14 anos nenhum médico o incluiu na sua listagem é porque você não tem sorte.
Pronto, pensei eu cá com os meus botões, pior do que ser um utente “sem médico” é ser um utente “sem médico” e sem sorte. Agora, explicaram-me ainda, sempre que necessitar de cuidados de saúde primários, terei que ir ao centro onde vão todos aqueles que se encontram na mesma condição em que me encontro. Por isso, neste novo ano, sempre que me desejavam tudo e mais alguma coisa, eu acrescentava… e espero que seja um 2011 com muita saúde e que não tenha que ir ao médico.
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