Dou comigo muitas vezes a pensar qual será a razão pela qual as campanhas de prevenção rodoviária não dão os resultados que todo o país deseja. São campanhas por vezes verdadeiramente chocantes. Recordo-me daquela em que surgiam nos ecrãs jovens que ficaram com deficiências físicas devido aos acidentes que sofreram. Lembro-me também de uma outra com imagens de carros completamente desfeitos.
A última que me ficou na memória é aquela que, suponho, está a decorrer e que foi lançada pelo Governo Civil de Braga, em que se pediu aos párocos para sensibilizarem as pessoas para a importância de saber bem atravessar uma estrada.
Seria interessante avaliar qual o impacto que todas estas campanhas, que custam milhares de euros, têm tido na sociedade. A meu ver, mais importante que todas as mensagens chocantes que se pretendam transmitir, é difundir valores de civismo. Eu sei que é difícil.
A meu ver, se o civismo que vigora numa boa parte dos condutores portugueses fosse outro, uma grande maioria dos acidentes era perfeitamente evitada. Alguém já pensou que bastava, por exemplo, deixar passar um carro que está no eixo da via a tentar mudar de direcção há mais de dez minutos porque ninguém o deixa, para evitar uma série de chatices?
Ah! Também gosto muito quando vou na auto-estrada e estou a ultrapassar a 120 km/h um outro veículo e surge-me no retrovisor um “Alonso” a dar-me sinais de luzes. E insiste com as luzes… Apetece-me tirar o pé do acelerador e continuar na faixa da esquerda. Também não menosprezo aqueles que, ao entrar numa via principal, com o sinal de perca de prioridade, fazem-no como se não houvesse amanhã e numa atitude de que “isto é tudo nosso”. E, se por acaso, nós que vamos tranquilamente na via principal, não nos arredamos, eles começam a buzinar e fazer gestos obscenos e ameaçadores como se tivessem toda a razão do mundo.
Para estes, que não são poucos, não há campanhas, por mais chocantes, que façam moça. Para estes, chego a pensar que não há cura. No entanto, continuo a acreditar que tudo isto tem de passar por um trabalho que, paulatinamente, trabalhe mentalidades. Um trabalho que torne estas pessoas mais cívicas. Não basta chocar.