Depois de muito tempo sem aqui vir, eis que regresso com um texto de opinião publicado no suplemento de televisão do Diário do Minho... Como disse, é um texto de opinião.
Os portugueses sofrem de um grave problema que se chama inveja. Não podem ver alguém a ter sucesso, que logo começam a sentir um fervilhar dentro de si e uma voz interna a sussurrar-lhe aos ouvidos: “… vês, podias ser tu! Vá lá. Ainda vais a tempo! Copia-o…”
E tudo começa na escola. A professora manda fazer um trabalho e há sempre aquele aluno mais criativo que faz algo de mais ousado. Quando esse aluno dá por ela, tem uma meia dúzia de alunos a espreitar-lhe pelo ombro e a fazer coisas muito parecidas. E, se esse aluno mais criativo tiver mesmo azar, quando olhar bem à sua volta, já terá um outro colega, de peito feito, a entregar antes dele o tal trabalho muito parecido à professora.
Mas, isto não acontece só na escola. Vamos imaginar o cidadão A que, durante algum tempo andou a estudar uma determinada zona da cidade porque tinha algum dinheiro para investir. Chegou à conclusão que naquela rua, o investimento ideal era uma sapataria. Investiu e, ao fim de quatro meses, a casa estava ao rubro. A dar lucro. Vendo que o negócio ali rendia, os cidadãos B, C, D, E e F, não se contiveram e também ali montaram sapatarias, esfregando as mãos de contentes.
Ora, olhando para o que acontece nas nossas televisões e para as suas grelhas de programas, arrisco-me a dizer que é muito fácil de ver e de sentir esta inveja. Se uma televisão decide avançar com um concurso às 21h00, onde os vencedores podem levar para casa mil euros, não dou uma semana para que os outros dois canais também não tenham um concurso em que os vencedores podem levar um carro.
Se uma televisão aposta numa telenovela portuguesa às 23h00, não dou três dias para que as outras apostem em telenovelas brasileiras de última geração, com os actores mais na berra que virão a Portugal na altura do Carnaval.
Na verdade, eu sei que a isto não se chama inveja. Mas sim falta de coragem em arriscar e em ser inovador e diferente. As nossas televisões estão agarradas à preocupação das audiências. E, se um determinado canal está a ter sucesso com um determinado programa, há que ir ao mercado, comprar um formato muito parecido e colocá-lo à mesma hora, para fazer concorrência e roubar audiências. Este é, sem dúvida, o caminho mais fácil. Falta coragem às nossas televisões.